Para estimular a reflexão sobre o tema que será discutido no encontro de quarta-feira, 08 de dezembro, reproduzimos a seguinte matéria publicada na edição de domingo, 05 de dezembro, do jornal Tribuna do Norte. 
Os Diálogos Criativos discutirão no dia 8 o preconceito contra o NordesteDalcy da Silva Cruz (
dalcruz@bol.com.br) - Professora e pesquisadora de Ciências Sociais da 
Universidade Federal do Rio Grande do NorteAntonino Condorelli (
dialogos_criativos@dhnet.org.br) - Coordenador dos 
Diálogos CriativosDurante e depois das últimas eleições presidenciais, o preconceito  contra as regiões Norte e Nordeste por parte de certos setores das  sociedades do Sudeste e do Sul do Brasil, um fenômeno há muito tempo  latente, emergiu com força inusitada – amplificado pelas redes sociais  da Internet - e ganhou cada vez mais concretude a ameaça de uma  legitimação política destas visões e atitudes. Entre 31 de outubro - dia  em que se votou no segundo turno - e 4 de novembro a  organização-não-governamental SaferNet Brasil (
www.safernet.org.br), que  atua pela proteção dos direitos humanos no ciberespaço, recebeu mais de  dez mil denúncias de usuários da rede social 
Twitter que disseminaram  manifestações racistas e incitações à violência contra nordestinos. Das  denúncias recebidas, 1.037 foram levadas pela  organização-não-governamental ao conhecimento do Ministério Público de  São Paulo. Entre os perfis denunciados o de Mayara Petruso, estudante de  direito paulista cujas mensagens carregadas de ódio pelos nordestinos,  extremamente violentas, se tornaram em pouco tempo o principal símbolo  da inesperada (re)emersão desta manifestação do preconceito no Brasil.
Se  trata de sinais preocupantes que lembram processos históricos análogos  como, por exemplo, o que ocorreu na Itália em meados dos anos 1990.  Naquela época o partido político Lega Nord (Liga Norte), que pregava a  separação das regiões mais industrializadas do Norte do país do Sul  pobre e flagelado pelo crime organizado alegando ideais de matriz  nazi-fascista quais a “superioridade da raça” e canalizando pulsões,  instintos e sentimentos por muitas décadas cultivados na sociedade, mas  unanimemente execrados por todas as forças políticas democráticas,  ganhou legitimidade política ao ser aceito como membro de uma coalizão  de centro-direita que disputou e ganhou as eleições, sendo projetado  improvisamente das margens do processo democrático ao governo da nação.  Após esta legitimação, o partido cresceu até o ponto de ter se  convertido em pouco mais de uma década em uma das principais forças  políticas italianas e, além de continuar a governar o país dentro da  coalizão governamental que ainda hoje está no poder, administra algumas  das suas mais importantes regiões e cidades, promovendo nestas últimas  políticas gritantemente discriminatórias contra imigrantes procedentes  de países pobres, políticas que apesar de marcadamente  anti-constitucionais não só não indignam nem espantam a maioria da  população, como recebem em vários casos uma ampla aprovação.
Existe  um risco análogo no Brasil? As tendências manifestadas por  representantes de algumas forças políticas, que em declarações públicas  ou em ambientes virtuais acataram leituras da eleição de 
Dilma Rousseff a  Presidenta da República que atribuem ao “atraso” de regiões como o  Nordeste e aos programas sociais do Governo Lula o triunfo da candidata,  esquecendo ou não considerando deliberadamente dados que apontam que  ela teria ganho as eleições mesmo sem os votos dos nordestinos e que  mudanças sociais profundas e substanciais acontecidas nos últimos anos,  bem além do tradicional “assistencialismo”, estão na raiz da  popularidade dela nestas regiões, parecem justificar o temor de que aqui  também possam ganhar legitimidade política e entrar de cabeça erguida  no jogo democrático visões, atitudes e sentimentos explicitamente  xenófobos.
Diferentemente do que se pensa, as manifestações de  preconceito anti-nordestino emersas no decorrer das últimas eleições  presidenciais e imediatamente depois delas não são uma novidade. Já em  2006, como mostra uma reportagem da edição de novembro e dezembro  daquele ano da revista da organização-não-governamental de promoção da  cidadania 
Ibase, a campanha contra a reeleição de Lula foi desenvolvida  da mesma forma agressiva e preconceituosa. Também naquela época uma  parte da campanha de oposição estabeleceu uma cisão entre “letrados” e  “analfabetos”, os primeiros necessariamente contrários a Lula devido ao  seu nível de “educação” e “inteligência”. Da mesma forma em que hoje a  ampla vitória de Dilma Rousseff em regiões com enormes bolsões de  pobreza é atribuída ao “paternalismo”, supostamente ancorado no  analfabetismo e em programas como o Bolsa Família, negando a  possibilidade de um voto consciente por partes dos “pobres” nordestinos.
O  Brasil não corre o risco de ser dividido: já nasceu assim. Começamos  nossa história com uma gigantesca fratura racial e de classe que  permanece até hoje, na prática e no imaginário social: senhores brancos  proprietários de grandes extensões territoriais e detentores de um  imenso poder e uma enorme massa de índios e de negros importados da  África, considerados subumanos e escravizados. Desde o começo da nossa  história a ética predominante é a da exclusão social, que se traduz  também em exclusão – e conseqüentemente discriminação – racial.
Para  discutir de forma aberta como se constituiu historicamente o  preconceito anti-nordestino, como evoluiu, como se manifesta e os  perigos que acarreta para o futuro do Brasil, o projeto cultural  
Diálogos Criativos – que tem o apoio editorial da 
Tribuna do Norte –  organizou mais um instigante encontro intitulado 
Preconceito contra o  Nordeste: quem quer dividir o Brasil? O encontro, aberto a todos e com  entrada franca, acontecerá na próxima quarta-feira, dia 
08 de dezembro, a  partir das 
19:00 horas no 
Auditório da Livraria Siciliano, no terceiro  piso do Midway Mall. Todos os participantes, como de costume, terão  direito a um café expresso gourmet de cortesia oferecido pelo 
Café  Genot, parceiro do projeto.
Para mais informações, visitem o blog  
http://dialogoscriativosnatal.blogspot.com ou escrevam para  
dialogos_criativos@dhnet.org.br.